Resenha #4: Anne of Green Gables

      Na verdade, esta resenha será acerca dos três primeiros livros da série. Escritas por Lucy M. (Maude) Montgomery, entre 1908 e 1936, as aventuras de Anne Shirley, da sua adoção pelos irmãos Marilla e Matthew Cuthbert à sua vida adulta, são contadas de um modo tão apaixonante que não dá vontade de largar a leitura por nada.
       Conheci a série da Anne há uns dois anos, no Pinterest, enquanto pesquisava fotos da primeira década do século passado. Achei que fosse um filme, e ao procurá-lo para assistir, deparei com três, sendo o primeiro de 1985. Assisti quase tudo de uma vez e fui cativada pela amabilidade das personagens e do enredo. (Só para constar: os filmes são baseados nos livros, e não a reprodução fiel deles). Como eu amo histórias de época, nem me importei com a falta de grandes reviravoltas na história. A própria protagonista me lembrou muito a Pollyanna, mas como também gosto desta, é óbvio que também sentiria o mesmo por aquela.
         Foi só depois de lançarem a série do Netflix que consegui encontrar o livro físico na livraria e, como o preço estava excelente, comprei-o no mesmo dia. Devorei o primeiro volume (Anne of Green Gables) em dois dias. O enredo é simples: Anne é uma órfã de 11 anos que é mandada, devido a um mal entendido, no lugar de um menino para a vila de Avonlea, na Ilha Prince Edward (que fica no sudeste do Canadá). Determinado a resolver o problema no dia seguinte, Matthew, que havia pedido um garoto para ajudá-lo na fazenda, leva a pobre menina para Green Gables - esse é o nome da casa dos Cuthbert, uma vez que as empenas dela são verdes. Lá a irmã, Marilla, uma senhora franca e determinada, fica espantada quando o irmão, tão bondoso e quieto, volta da estação de trem com uma garotinha ruiva, franzina e maltrapilha. Anne, até então alheia à existência do mal entendido, cai no choro ao descobrir que ninguém ali tinha lhe adotado. Marilla, sem saber direito o que fazer, assegura que irá acertar a situação no outro dia e que a menina poderia passar a noite na casa.
          Como é de se esperar, a pequena órfã acaba ficando em Green Gables, e o primeiro livro relata a adaptação dela com os irmãos (no início Marilla a repreende com frequência, o que leva a menina a achá-la rancorosa, enquanto Matthew se afeiçoa a ela rapidamente), o complexo de vaidade da menina (principalmente com a cor de seu cabelo), com a vizinha Rachel (quem nunca teve uma vizinha fofoqueira e que gosta de "pegar no pé"?) e com a vida naquele pacato vilarejo. Anne, cuja personalidade é retratada como sonhadora e distraída, fica fascinada com praticamente tudo ao seu redor, fato que resulta em muitos erros por falta de atenção. A autora faz questão de descrever as paisagens, as plantas e o tempo de um modo que você se sentia imerso no mundo da protagonista. Além disso, Anne está sempre à procura de "kindred spirits" (espíritos amigáveis, em uma tradução literal), o que, com o passar do tempo, faz com que ela seja amada por todos em Avonlea. Digamos que ela seja o equivalente da Rory Gilmore para Stars Hallow.
          Para resumir, o primeiro livro trata da adaptação dela ali até mais ou menos os seus 16 anos de idade, quando ela vai para o Ensino Superior, com o propósito de estudar para lecionar. O final dessa história é surpreendente (provavelmente vai fazer você chorar).
           O segundo volume, Anne of Avonlea, trata do período em que ela se torna professora da escola de Avonlea e ingressa na sociedade adulta da vila, assim como mostra sua dedicação à comunidade ao criar, com os amigos, um grupo de melhoria, o A.V.I.S., em inglês, the Avonlea Village Improvement Society (a Sociedade de Melhoria da Vila de Avonlea). Há também a apresentação de novos personagens, como o misterioso inquilino de Green Gables, sr. Harrison, os gêmeos Dora e Davy Keith (este cujas traquinagens te tiram do sério, mas mesmo assim você gosta dele), o estudante exemplar de Anne, Paul Irving e a doce senhorita Lavender (a minha preferida dentre todos os novos personagens).
            No terceiro livro, Anne of the Island, Anne já está crescida e não comete mais as gafes do passado (o que, em termos de progresso, é excelente, mas para o leitor a leitura fica um pouco lenta). Ela não é mais uma pequena sonhadora, e sim, uma jovem que contempla o mundo ao seu redor. Nessa história, Anne está na universidade de Redmond - por ser longe de Avonlea, conta com uma quase insignificante participação dos personagens dos primeiros livros. É nessa história que conhecemos Philippa Gordon, a amiga que Anne faz por ali, cuja personalidade é bem diferente da da protagonista. Eu sinceramente não gostei dela, mas tive de tolerá-la, já que ela está presente em praticamente todos os capítulos. Também é de se esperar que, à medida que Anne fica mais velha, seus interesses e desejos começam a mudar, embora ela tente se recusar a aceitar essas mudanças. Eu achei bem peculiar a abordagem que a autora usou na transição de uma Anne criança para uma Anne adulta, uma vez que apresentou os questionamentos típicos do fim da adolescência e a resistência da jovem em aceitar as transformações tanto na sua vida quanto nas pessoas e na própria vila de Avonlea. Esse livro dá um enfoque aos sentimentos das personagens, principalmente no quesito do romance. É aqui que Anne é forçada a abrir os olhos para a realidade, ao descobrir que não adianta ter um "boy magia" se ela não o ama. Mesmo assim, ainda acho que só a descrição do futuro marido dela Gilbert seria suficiente para deixar qualquer menina apaixonada por ele (e de fato, Anne é a única garota em toda a série que não nutria uma quedinha por ele desde a primeira vista). O final do livro é uma conclusão bem condizente para o desenvolvimento da narrativa.
           Após terminar o terceiro volume, decidi que não leria as sequências para não me decepcionar, caso a história ficasse cansativa ou caso Anne deixasse para sempre de ser aquela menininha sonhadora e cativante. Mesmo assim, para quem não se importa com prováveis decepções, vale a pena arriscar continuar a ler a série. Totalmente recomendo a todos que gostam de uma leitura leve, perfeita para entrar na história e esquecer o mundo ao redor.

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