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Mostrando postagens de março, 2018

De volta aos anos 60?

Há uma semana parei para pensar em quão confusas as coisas andam desde o final de fevereiro. Confesso que a empolgação da minha vida pessoal neste início de ano me desviou um pouco dos assuntos externos, mas sinto que não posso mais me abster de opinar acerca dos acontecimentos recentes. Em Brasília, desde a assinatura que assentiu a intervenção militar no Rio de Janeiro, tenho visto nas paradas de ônibus o carimbo "1964 is back". Demorou mais do que duas semanas para que eu realmente entendesse a dimensão dessa decisão.  Foi na quinta-feira passada. Eu tinha acabado de entrar na sala de aula quando recebi, no celular, uma notificação de um app de notícias, a qual dizia respeito a vereadora Marielle Franco. Eu nunca tinha ouvido falar dela. Creio que quase nenhum de nós, não-cariocas, sabíamos quem ela era e o que ela reivindicava. Infelizmente, ainda vivemos em uma sociedade onde só conhecemos uma pessoa quando ela morre. É triste, mas é verdade. Comovida com aquele assass

Resenha #6: Laranja Mecânica

                                            (AVISO: ESTA RESENHA CONTÉM SPOILERS)                                                            A resenha de hoje é a respeito de um dos livros mais famosos do século XX, que ficou ainda mais conhecido após a adaptação para o cinema feita por Stanley Kubrick: Laranja Mecânica, escrito pelo inglês Anthony Burgess e publicado em 1962. Desde os meus 12 anos eu andava interessada em ler a obra, mas graças ao meu pai, que já havia visto o filme, decidi esperar até os 18 para lê-la. A Parte Um me deixou horrorizada, uma vez que só tratava dos atos ultra-mega-hiper-super violentos e do consumo deliberado de drogas pelo jovem Alex, o protagonista, e seus três amigos: Pete, Georgie e Tosko (Dim, na versão original). A maldade e a ilimitabilidade desse grupo parecia não ter fim, tanto que eu estava quase chorando quando terminei o segundo capítulo. Se você (assim como eu) nunca nem mesmo viu o filme de 1971, e pensa que o livro denuncia a pobreza

Ensaio do Mês de Março

      O mês de março é o "Mês da Mulher", mas a maioria das pessoas só homenageia as mulheres no dia 8. Pois bem, hoje serei um pouco mais pessoal e crítica do que o costume, uma vez que, como uma jovem mulher (com cara de 12 anos, mas isso não é culpa minha), sou representante desse "grupo".        Felizmente, fui criada em uma família que nunca tentou limitar os meus sonhos. Meus pais sempre me incentivaram a estudar e a cursar o curso que eu quisesse quando chegasse ao Ensino Superior. Já quis ser engenheira, ortodontista, historiadora, diplomata, tradutora... sei que sou enormemente privilegiada em ter pais que nunca me desmotivaram a seguir a profissão que eu quisesse.         Antes de expor meus argumentos, contarei um pouco a respeito das mulheres a quem devo minha existência e cujas histórias conheço muito bem. Minha avó (materna) nem mesmo sabia o que era uma faculdade. Vinda de uma família tradicional e criada no interior do Goiás, ela só frequentou a es

Resenha #5: O Grande Gatsby

       Depois de dois anos postergando a leitura dessa obra tão renomada, finalmente criei vergonha na cara para ler O Grande Gatsby. Como eu já li muitos contos de F. Scott Fitzgerald, entre eles o também aclamado "o Curioso Caso de Benjamin Button", não achei que a hisória se diferencie muito ao tratar-se de técnica de escrita. O autor usa os mesmos recursos de sempre (muito diálogo, enfoque nas festas e nas bebidas, que são as constantes em todas as suas histórias e consequentemente na estética dos anos 1920), mas são esses recursos utilizados por Fitzgerald que fazem seus escritos tão consagrados.         (Eu nunca vi nenhum dos filmes inspirados na história, justamente para não estragar o final, portanto não vou contrastar a adaptação com o original).         O narrador da história, Nick Carraway, é mais um narrador-observador do que um narrador-personagem. Digo isso porque ele se encontra à margem do enredo, e é empurrado para o meio da trama como um intermediário ent

Porque "Projeto Flórida" merecia concorrer a alguns Oscars

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     A primeira vez que ouvi falar a respeito desse filme foi no Instagram. Uma pessoa que sigo havia publicado uma foto do pôster, com a legenda "👏👏👏". Não vou mentir, de início pensei que fosse um filme com uma "pegada meio Moonlight" (sim, eu não gostei de Moonlight), então não dei muito crédito. Duas semanas depois, um canal de entretenimento no qual sou inscrita no YouTube publicou um vídeo acerca desse longa-metragem e eu, curiosa, como sempre, o assisti e fiquei interessada pela história. Como só consegui ver o filme há uns dias, estou escrevendo a respeito dele agora para que mais alguém compartilhe da minha decepção em não ver essa produção nas listas da aguardada premiação cinematográfica.                                                   A história decorre a poucos quilômetros do complexo do Walt Disney World, na Fórida (o título do filme remete ao primeiro nome dado ao conjunto dos parques de Orlando). Os fatos, no entanto, se distanciam da rea

Pantera Negra - comentário

     Na segunda-feira finalmente fui ao cinema assistir ao filme Pantera Negra. Eu estava aguardando ansiosamente por isso desde a primeira vez que vi a personagem de Chadwick Boseman pela primeira vez, em Capitão América: Guerra Civil. Não me decepcionei: o filme foi tão bom quanto eu esperava - até mais do que eu havia imaginado. Esse filme certamente ficará marcado na história cinematográfica. Sei que muita gente não liga para filmes de super-heróis, justamente pelo fato de serem voltados somente para a bilheteria e nada mais, porém é impossível negar o impacto que eles proporcionam às crianças e aos jovens. Eu posso imaginar o quão gratificante deve ser para uma criança negra se deparar com um super-herói negro na telona (ou na telinha, se assistir na TV ou no computador). Ver um herói da Marvel, um rei, uma pessoa honesta, de pele escura, o que é tão incomum na mídia, é o primeiro passo para um empoderamento. É o mais próximo que muitas crianças chegaram até hoje de se identificar