Resenha #7: O Brasil Como Problema

Demorei, mas cheguei com uma resenha fresquinha! Hoje escreverei a respeito de um livro que eu já queria ler desde a metade do ano passado, mas que tinha preguiça de comprar/pegar na biblioteca. Quando fiquei sabendo que a editora da UnB estava em promoção (muitos livros, incluindo esse, por 10 reais), soube que a hora havia chegado.

O livro é pequeno - talvez por ser um ensaio. A minha edição tem 106 páginas (sendo que o ensaio de fato começa na p.23). Li tudo em cerca de duas horas. 

Darcy Ribeiro escreveu O Brasil Como Problema em 1995 e, infelizmente, tudo o que é tratado no livro ainda é muito atual. O primeiro capítulo leva o mesmo título do livro. "Ao longo dos séculos, vimos atribuindo o atraso do Brasil e a penúria dos brasileiros a falsas causas naturais e históricas, umas e outras imutáveis. Entre elas, fala-se dos inconvenientes do clima tropical, ignorando-se suas evidentes vantagens." Aí ele faz referência ao clima e ao povo. "Também se fala da religião católica como um defeito; sem olhos para ver a França e a Itália, magnificamente realizadas dentro dessa fé." Enfim, nesse capítulo o antropólogo faz uma listagem dos problemas do nosso ilustrável país. 

Em seguida, ainda no mesmo capítulo, ele relaciona a sociedade fundamentada no latifúndio e a histórica exploração dos povos subordinados ao homem branco. "Construímo-nos queimando milhões de índios. Depois, queimamos milhões de negros. Atualmente, estamos queimando, desgastando milhões de mestiços." Com isso, ele explora a problemática social do Brasil e em como o próprio povo se acha inferior por causa da mestiçagem. A solução, segundo ele, é criar um Povo Novo - a "Nova Roma", como estudei no meu 3° ano do Ensino Médio. 

No segundo capítulo, ele menciona as causas e as culpas do atraso nacional. Como qualquer comunista, é previsível que ele culpe as diretrizes econômicas e sugira uma unificação dos povos explorados (latinoamericanos) pelo capitalismo. 

No terceiro capítulo, somos todos culpados. "Quem, letrado, não tem culpa neste País dos analfabetos? Quem, rico, está isento de responsabilidades neste País da miséria? Quem, saciado e farto, é inocente neste nosso País da fome? Somos todos culpados." Se um trecho como esse não faz você refletir, meu amigo... 

Daí para a frente eu vou seguir um pouco mais rápido. Achei os primeiros três capítulos o mais interessantes e foi onde grifei mais. O quarto capítulo, "Genocídio - estamos matando nosso povo", também trata das questões socioeconômicas vividas Brasil afora, por um viés sensível, escrito com os olhos (e as mãos) de um antropólogo que andava por aí, vivendo em tribos indígenas, pessoas faveladas, estudando e participando politicamente em prol dos menos favorecidos. 

Capítulo cinco - Indignação. É aqui que está a icônica frase desse senhorzinho. "Somei mais fracassos que vitórias em minhas lutas, mas isto não importa. Horrível seria ter ficado ao lado dos que nos venceram nessas batalhas." Trata da indignação dele com a juventude pós-democratização e os incentiva a valorizar a "ninguendade" do nosso povo. "Nós viemos dos zés-ninguém gerados pela índia prenhada pelo invasor ou pela negra coberta pelo amo ou pelo feitor." Nesse ponto, eu gostaria de dizer que aprecio muito o otimismo dele quanto ao futuro do Brasil. Sério, o cara acreditava muito no progresso desse lugar!

Capítulo seis - Espanto. Fala sobre a experiência dele com a Ditadura Militar. Segundo ele, o que era bom estragou e o que era ruim ficou pior ainda. Discorre acerca do Milagre Econômico e outras coisinhas mais, como a situação das universidades nesse período (principalmente a UnB e USP) e a censura da imprensa.

Capítulo sete - Civilização e desenvolvimento. Ele aponta a dimensão do território brasileiro como vantajosa, principalmente por causa do solo fértil e da extensa e linguisticamente homogênea população.

Capítulo oito - De fracasso em fracasso. Aqui Darcy Ribeiro desenvolve o argumento dele de que é um fracassado, ou seja, transcreve o discurso que fez ao receber o título de Doutor Honoris Causa na Sorbonne (e eu aqui, me achando vencedora por ter achado uma balinha no fundo da minha mochila). Não vou citar nada desse capítulo. Se você ficou curioso, pode lê-lo na íntegra aqui.

Capítulo nove - Minha pele. Se isso fosse um episódio de Friends, o título seria "The One where he compares himself to a Snake" ("Aquele em que ele se compara com uma Cobra"), porque é isso mesmo que ele faz neste capítulo autobiográfico. É só lendo para entender.

O capítulo dez é um tributo ao brother de Darcy, o educador Anísio Teixeira. No momento estou com um pouco de sono, então vou pular qualquer comentário acerca dessa parte.

Capítulo onze - Confrontos. É meio polêmico e me senti meio agredida com esse capítulo, uma vez que o meu posicionamento ideológico vai, em parte, contra a ideologia do autor. Ele narra suas desavenças com a Igreja Católica e a institucionalidade da racionalidade dela. Traduzindo, critica o que hoje é vulgarmente chamado de "fundamentalismo" e "fascismo". Conta de como isso, no século XX, acirrou com o  Estado Novo de Vargas e voltou em 1957 com o movimento reacionário. Para finalizar, conta um pouco de sua experiência como Ministro da Educação durante o controverso mandato do Jango e como conseguiu um certo progresso na educação brasileira com a Lei de Diretrizes e Bases. 

Com esse pequeno resumo - eu praticamente li o livro todo enquanto escrevia essa resenha - espero ter despertado o interesse em alguém para ler esse ensaio. Achei que a fluidez de Darcy Ribeiro faz com que seja possível ler tudo tranquilamente, sem se cansar. Ele não fica dando voltas como outros intelectuais, realmente dá para entender com clareza o que ele quer transmitir. Assim como eu, você não precisa concordar com tudo o que ele escreve, mas acho legal aproveitar o que você acha interessante para refletir e até mesmo aplicar no cotidiano. 

"Se esse livro fosse escrito hoje, já teria mais de cinco mil páginas..." -Eline Sandes


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