Resenha #11: Admirável Mundo Novo

Imagine um mundo onde as pessoas são produzidas industrialmente e idolatram Henry Ford. Agora adicione um pouco de reflexões filosóficas à lá Clarice Lispector. Nada disso parece combinar, certo? Entretanto Aldous Huxley juntou tudo isso na distopia mais poética que já li. Para um livro publicado em 1932, o autor poderia muito bem ser um viajante no tempo, pois preveu o sucesso das televisões,  do cinema 6D (sensível), dos aspiradores de pó, dos anticoncepcionais, dos balões meteorológicos e sabe-se lá o que mais. 

No mundo de Admirável Mundo Novo ninguém nasce, e sim, é decantado e condicionado desde a fase embrionária a predestinadores, em uma esteira de produção no modelo fordista. De acordo com a classe - alfa, beta, gama, delta e ípsilon, o feto recebe compostos químicos que o adequam às funções sociais que o futuro humano irá desempenhar. Na infância, uma espécie de lavagem cerebral (hipnopedia) continua a controlar os "pensamentos" de cada um, convencendo-os a serem consumistas, libertinos e felizes. 

Entretanto, há Bernard Marx, um alfa-mais diferente dos outros da sua classe devido à baixa estatura, à timidez e às tendências de se isolar das pessoas. Ele até queria ser igual, mas é sempre caçoado, mesmo com as castas baixas ele precisa se impor para o levarem a sério. 

Lenina Crowne, para provar a uma amiga que a sua vida amorosa vai muito bem, obrigada, aceita ir ao Novo México com Bernard em vez de continuar a se encontrar com um outro homem - apesar dela gostar muito de Bernard, ela sente uma relutância em ter mais do que um parceiro ao mesmo tempo. 

Por fim, há Helmholtz Watson, que sai da linha por ser um gênio. Ele é, por assim dizer, o único amigo de Bernard. Apesar da participação dele não ser tão significante na história, esse personagem demonstra que, no fundo, não era tão raro naquele mundo achar um "fora do padrão".

Tudo começa a mudar a partir da viagem de Bernard e Lenina para uma reserva indígena no Novo México, onde se deparam com uma sociedade não-civilizada e duas pessoas inusitadas, diferentes dos "selvagens" que habitam ali. Desse momento em diante, a simbiótica relação entre a poesia e a filosofia se provam os principais ingredientes para que esse livro seja tão marcante; você descobre o porquê de "Admirável Mundo Novo", mas não vou dar spoilers. Ficamos por aqui com a dica de leitura/resenha de hoje.

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