Vamos falar sobre livros?

Como vocês já sabem, esse blog tem como foco principal os livros. Daí eu estava pensando: mas será que os brasileiros, especialmente da minha idade, leem muito?

Aqui em Brasília, vejo muita gente lendo nos ônibus e nas pracinhas, os sebos e livrarias que frequento vivem cheios e os livros sempre são um lugar-comum quando tento quebrar o gelo em alguma conversa. Talvez seja devido ao elevado índice de escolaridade e de renda daqui - pode até ser.

Mas qual é a realidade da leitura no Brasil?

 

Fonte: Instituto Pro Livro

Segundo a pesquisa mais recente do Instituto Pró Livro, divulgada em 2016, é considerado "leitor" quem leu pelo menos um livro nos últimos três meses. Um livro! Em três meses! Só para você ver como é a realidade do nosso país, nem um livro em três meses o brasileiro lê. Dos entrevistados, apenas 56% deles correspondia ao padrão do "leitor", o que subiu em relação à pesquisa feita em 2011, com 50%, mas mesmo assim é preocupante. Dos 5 mil entrevistados, 42% lia frequentemente a Bíblia, seguido por 22% livros religiosos, contos e romances, 16% livros didáticos e 15% infantis. Entende-se que entre os principais motivos para a falta de leitura há a indisponibilidade de tempo livre para ler, mas... 

Vamos comparar os nossos hábitos de leitura com países próximos do nosso. Em 2012, um estudo feito pelo Centro Regional Para el Fomento del Libro en América Latina y el Caribe (Cerlalc) apontou que a Argentina e o Chile são os países com mais leitores da América Latina, seguido pela Colômbia. O primeiro tinha como porcentagem 55%, o segundo, 46%, e o terceiro, 45%. Quanto ao Brasil, os dados atestaram que cada brasileiro médio lê cerca de quatro livros POR ANO, e só termina dois deles.

Não sei como é a realidade nos outros países sulamericanos, mas a principal barreira que vejo na frente dos leitores em potencial (e até dos leitores assíduos, como eu e o meu pai) é o preço dos livros. Enquanto nos EUA e no Reino Unido há livros novos sendo vendidos por $3,50; £2, aqui no Brasil é muito raro achar alguma coisa boa por esse preço. Eu mesma compro muitos livros usados por achar um absurdo pagar R$40, R$70 em só um exemplar. Falarei sobre meus hábitos de leitura em algum post futuro, mas o que eu queria agora era ressaltar a discrepância nos valores das obras literárias no nosso país. Agora, preço não pode ser sempre a desculpa para não ler quase nada: é para isso mesmo que existem as bibliotecas e os amigos/professores/parentes/PDFs. 

Não me perguntem o porquê de terem usado a Rússia como exemplo!

Felizmente, e para o meu alívio, descobri que hoje 67% dos leitores são jovens entre 18 e 24 anos. Em uma reportagem da TV Cultura de 23 de março deste ano, a professora de Teoria Literária do Mackenzie e da Unicamp, Marisa Lajolo, afirma que os famosos Booktubers são a principal causa desse "boom" na prática de leitura da geração atual. Para ela, "os bons youtubers fazem aquilo que os bons professores e os bons pais precisavam fazer: eles leem o livro para o leitor, eles pôem o dedão ali na linha, choram, fazem de conta que choram - ou seja, eles compartilham aquilo que simulam ou não com um envolvimento naquilo que estão lendo". 

Por fim, cabe lembrar que o Brasil ainda tem muitos analfabetos funcionais, ou seja, cidadãos que sabem ler, mas não sabem como ler. São pessoas que entendem as palavras, mas não o que elas querem dizer. Creio que a nossa questão cultural também atrapalhe a frequência com a qual lemos; entretanto, já que importamos costumes e produtos do exterior, por que não pegar a leitura como forma de lazer? #FicaADica