Resenha #14: Jane Eyre


Demorou, mas chegou! Após dois meses lendo um único livro (por lazer, rs), finalmente terminei mais um clássico da literatura. Assim como muitas outras histórias, conheci o enredo de Jane Eyre a partir do filme de 2011, que vi há alguns anos. Achei o longa-metragem muuuito cansativo, além de ter uma "vibe" meio dark. Mas isso me deixou curiosa a respeito do livro, e desde então eu me programava para lê-lo.
Um dia, estava Eline na BCE, procurando Dublinenses, de James Joyce, e acabei me deparando com Jane Eyre, na seção de literatura inglesa. Aquele livrinho de encadernação vermelha, caindo aos pedaços, olhou pra mim, eu olhei pra ele... e acabei pegando emprestado! Daí li 20, 40, 80 páginas... mas a minha rinite não estava ajudando: como a edição era dos anos 1970, e estava meio "jogada" na prateleira, não consegui ler o livro da biblioteca até o fim. Como me apaixonei pela história desde o início (o ritmo de leitura é muito bom e concilia descrições com diálogos e pensamentos da protagonista), acabei comprando (por 40 reais!) uma versão novinha em folha. (Aliás, achei a mesma versão na Amazon por 16 reais, e se você curte Ebooks, tem por R$ 3,70! Sem querer fazer publicidade, mas acho que compensa! Se estiverem interessados, aqui está o link 😊: https://amzn.to/2q0M7ox  - e a versão da Martin Claret, em português, também está com um preço muito bom: R$34,90 https://amzn.to/2J1RhcE )


De volta ao enredo do livro: amei. A história é muito bem escrita, e você realmente consegue enxergar os personagens e os lugares a partir das descrições físicas e de personalidade. 100% recomendo para qualquer pessoa acima de 14 anos (acho que alguém com idade inferior a essa não consiga absorver direito a construção da narrativa, mas é só a minha recomendação!)

O livro foi escrito por Charlotte Brontë e publicado em 1847. A história, apesar de ser classificada como um romance romântico, é mais profunda do que isso. É uma narrativa introspectiva, que quebra diversos preceitos sociais daquela época, a começar por uma heroína dona de si. Os personagens são imprevisíveis, com falhas que não acabam nunca, e que não são bonitos como os príncipes e princesas da Disney, ou como os heróis da Marvel. 

Tem um pouco de mistério? Tem. Tem um pouco de melancolia? Tem. Tem um pouco de felicidade? Tem. Tem "treta"? Tem. É uma história tão complexa quanto a vida real, e por isso demanda muita atenção.

Uma história tão complexa quanto a vida real, porém, merece dois tipos de resenha: sem spoiler e com spoiler. Se você escolher sem spoiler, só desça esse post até o final da parte sem spoiler (não tem mais nada que te interesse depois disso)

Sem spoiler:

Jane Eyre é uma menina órfã, infeliz, que mora com uma parenta rica e malvada, mas que de tanto ser "insuportável" é mandada para um internato, onde é relativamente feliz e recebe a devida educação pelos dez anos seguintes, e depois se torna governanta em uma mansão meio "sombria". O dono da casa, que vivia viajando, só conhece Jane meses depois da chegada dela. Por causa de um problema, ele tem de ficar em casa, e a mocinha acaba se apaixonando por ele, o patrão. Eu achei isso sem noção, já que ela só tem dezoito anos, e ele, mais de quarenta (e ele é o primeiro homem que ela conhece...) mas enfim...

Depois de muita "treta", muito coração partido, ele acaba confessando que a ama, e eles ficam noivos. Na véspera do casamento, porém, Jane tem um sonho... que não era bem um sonho... isso acaba desencadeando em uma série de desentendimentos que a fazem fugir da mansão e procurar outro lugar, bem longe, onde ela faz amigos, que não são somente amigos. Ela passa um tempo com eles, mas depois acaba voltando para a mansão sombria e seu respectivo dono. Mais coisas acontecem, mas no fim as coisas terminam bem... ou não... se eu dissesse, já seria spoiler. 😉

Com spoiler: (demorei duas horas pra escrever tudo isso, então espero que alguém aí goste de spoilers, hehe)

Jane Eyre é uma menina orfã, infeliz, que mora com uma parenta rica e malvada, e os filhos John, Eliza e Georgianna Reed. Tudo muda quando, um dia, a pobrezinha passa tão mal que mandam chamar um farmacêutico para atendê-la. Ele recomenda que ela seja mandada para um internato e, semanas depois, Jane chega à escola Lowood. Lá, apesar das adversidades como pouca comida e muito frio, a menina vive feliz, é educada segundo a maneira da época (aprende a bordar, a falar francês, a pintar telas, a tocar piano), e aos dezoito anos, decide tornar-se governanta. 

Jane chega a Thornfield Hall, um casarão sombrio, onde muitos dos quartos só são abertos quando há visitas. O terceiro andar é um mistério, pois é de acesso restrito. A futura governanta é bem-recebida pela Sra. Fairfax, a cuidadora da casa, e pela aluna, a francesinha Adèle. Há também a misteriosa Grace Poole, uma serviçal que ri de um jeito bem assustador. E o dono da casa? Este Jane não conhece de imediato, pois ele está em uma viagem - aliás, ele passa mais tempo viajando do que em casa. Após meses trabalhando em Thornfield, a mocinha finalmente conhece o seu senhor, o Sr. Rochester. Devido a um certo acontecimento, ele acaba ficando em casa por mais tempo; Jane, então, apaixona-se pelo homem. Eu achei isso sem noção, visto que ela só tem dezoito anos, e ele, mais de quarenta (ele é o primeiro homem que ela conhece...) mas enfim...

Uma bela noite, Jane acorda com uma risada maléfica do outro lado da porta do quarto dela; ao abrir a porta, vê que ninguém está lá, e fica com muito medo. Mesmo assim, ela percebe que algo está errado, e, ao passar pelo quarto do senhor da casa, encontra fagulhas de fogo e fumaça. Ela, então, salva o homem ao acordá-lo com água fria (por que não?). O acontecimento é para ser mantido em segredo, por razões que Jane não entende. Pouco tempo depois, ele faz sua primeira viagem após o hiato, e retorna com uma g-a-l-e-r-a, entre eles Lady Ingram, uma mulher rica e da mesma faixa etária do dono da casa. Jane suspeita que seu senhor planeja casar-se com a ricaça, e fica de coração partido por isso. 

Um dia, outro visitante chega à mansão: o sr. Mason. Ele se identifica como um velho amigo do sr. Rochester. Naquela mesma noite, Jane é acordada pelo senhor da casa para acudi-lo, e o encontra ferido no misterioso terceiro andar. Sem entender o que aconteceu, a jovem ajuda a tratar a ferida até a chegada do médico.

Enquanto os hóspedes ainda estão na mansão, a protagonista recebe notícias de que a tia está muito doente, e que deseja vê-la. Ela retorna ao lugar onde passou parte da infância, e, antes de morrer, a tia confessa que o único parente vivo de Jane, por parte de pai, quisera lhe adotar, mas que ela (sra. Reed) escrevera que Jane morrera de tifo. Após a morte da tia, a mocinha volta a Thornfield: o sr. Rochester está em Londres, segundo a sra. Fairfax. Jane continua a sonhar com ele, até que, em uma bela noite, ele retorna e, no jardim, sob a luz do luar, ele confessa que ama a ela, e ela, a ele. Eles fazem votos de casamento e, após um mês, tudo está certo para casarem-se... mas na véspera, Jane tem um sonho muito esquisito, no qual uma mulher fantasmagórica e maligna entra em seu quarto e rasga o véu. Quando a noiva acorda no dia do casamento... Surpresa! O véu está, de fato, rasgado. No fim das contas, dão umas improvisadas e Jane sobe ao altar - porém, na hora do "fale agora ou cale-se para sempre", três homens se levantam para fazer objeções: dois advogados e o sr. Mason. 

E por que o casal não pode se casar? Porque o sr. Rochester já é casado, e a sua mulher está vivinha da silva. Tudo é explicado: o terceiro andar e as risadas assombrosas, assim como a tentativa de incêndio e de invadir o quarto da futura noiva, são atribuídos a Bertha Mason, ou melhor, sra. Rochester. Ela é uma lunática, tão fora de si que teve de ser presa em um quarto sem janelas e recebendo a visita de somente duas pessoas: Grace Poole, sua cuidadora, e seu "marido", que de vez em quando vai vê-la. Jane fica frustrada, pois acredita que seu futuro marido poderia ter contado-lhe tudo antes, sem omitir os detalhes, e que não faria sentido os dois se casarem depois desse "choque de realidade". Por fim, ela foge de Thornfield.

Para mim, essa fuga é um divisor de águas na vida de Jane. Apesar dela não ser nada daquela protagonista ingênua e de caráter fraco, é devido a tudo que aconteceu na primeira parte da história que ela aprende a ser "mais pé no chão" (vulgo largar de ser trouxa). Ela passa dias viajando, dias andando por aí, passando fome, dormindo no mato, com frio, e é acolhida por um homem jovem (o clérigo), St. John, suas duas irmãs, Mary e Diana, e a empregada, Hannah. Jane se recupera, apresenta-se como Jane Elliot, para esconder a sua verdadeira identidade, e acaba permanecendo com a família durante um tempo. Depois, recebe uma oferta de emprego do próprio St. John - ele quer ela como professora em uma escola montada por ele, para meninas e mulheres camponesas. Jane aceita e passa a morar sozinha em um casebre ao lado da escola. 

Uma noite de nevasca, St. John visita Jane e acaba contando-lhe que sabe quem ela realmente é. Sagaz, a moça não deixa barato, e pergunta como ele ficou sabendo disso. A verdade: St. John correspondia com um dos advogados que impediu o casamento dela e do sr. Rochester; St. John recebera a notícia de que o tio de Jane havia falecido e deixado uma herança de 20.000 libras esterlinas para ela - o que, naquela época, era o equivalente a 3 milhões da mesma moeda (imagine isso em reais!); St. John e suas irmãs eram da família Eyre. 

Vou admitir, minha mente ficou muito bugada com isso: como ninguém sabia que esses três parentes existiam até então, sendo que moravam ali mesmo na Inglaterra, enquanto o tio de quem ela ouvira falar morava na ilha de Madeira (território português a oeste da África)? A "resposta" foi que o pai dos três irmãos, casado com a irmã do pai de Jane, havia brigado com o cunhado. Desculpa sem graça? Sim, mas isso poderia acontecer na vida real.

Jane, descobrindo esse grau de familiaridade com esses três irmãos que estimava, decide dividir a herança em quatro e residir permanentemente com a família. Tendo achado uma substituta na escola, passa um tempo sem fazer nada. St. John, que queria ser missionário na Índia, decide pedi-la em casamento; do nada! Mas ele não a amava - ele só queria uma auxiliadora nas missões, pois Jane tinha aptidões para ser "esposa de missionário". Ela recusa a proposta: só vai se for como a irmã de St. John - mas ele reafirma que ela só irá se casarem-se. Ele refaz a proposta trocentas vezes, e ela continua a recusar, porque quer casar por amor, e St. John não a ama: ele é frio e duro como uma pedra.

Daí uma noite, do além, Jane ouve a voz do sr. Rochester chamando-a pelo vento. Isso é muito bizarro, mas a jovem tem o pressentimento de que é ele mesmo chamando, e responde: "Estou indo!"

E vai. Três dias depois ela retorna a Thornfield. Mas Thornfield não está mais lá: o casarão é senão uma ruína, queimada até o chão. Temendo o pior, Jane pergunta ao dono da pousada (onde ela vai dormir) o que aconteceu. Ele explica que houve um incêndio, provavelmente começado pela esposa maluca do sr. Rochester. Somente a louca morreu - caiu dura no chão - e o dono da casa conseguiu salvar todos... mas o preço que pagou por isso! Ficou cego e perdeu uma das mãos. O homem, que já era feio, deve ter se tornado a própria Fera de A Bela e a Fera (se bem que o Fera é um príncipe lindíssimo que foi amaldiçoado...). o sr. Rochester e mais dois serviçais estavam no momento morando em uma propriedade do falecido sr. Rochester, bem isolada de tudo e de todos.

E Jane vai atrás mais uma vez. Faz outra jornada e chega em uma noite à "nova" casa. Finge que é a serva e entra nos aposentos dele. Oh, mas que tristeza! Está tudo escuro, deprimido! Mas ele está ali, está vivo, e é isso que importa. Ela acaba revelando a identidade dela, e ele não acredita no que ouve e sente. No dia seguinte, ela confirma que está ali com ele, em carne e osso. 

No final, os dois se casam, há um desfecho feliz para todos os personagens envolvidos na trama, e sim, o sr. Rochester volta a enxergar, mesmo que parcialmente. Confesso que no final eu não mais franzia o nariz por causa desse relacionamento com uma diferença de idade tão grande para os meus padrões.

E se você chegou até aqui achando que eu escrevi demais, saiba que tem muito mais coisa que eu gostaria de colocar nessa resenha, porque de fato, a narrativa é muito complexa e cheia de detalhes. Só lendo para entender tudo!

Comentários