Resenha #18: O Quinze

Olá, pessoal!

Esta será a última resenha do ano (😎) e será sobre um livro que todo mundo já ouviu falar: O Quinze, de Rachel de Queiroz. Foi publicado em 1930 e relata como foi o ano de 1915, ano em que ocorreu uma longa seca no Ceará. Na época, a autora tinha apenas cinco anos de idade, mas foi por causa do duradouro período de estiagem que seus pais saíram de Fortaleza para o Rio de Janeiro.

A autora adota três pontos de vista para narrar a história, o que achei muito bom por dar uma fluidez enorme à narrativa e, também, por contar como diferentes pessoas encararam aqueles terríveis meses de estiagem.

O primeiro ponto de vista é o de Conceição, uma jovem professora da cidade que sempre passa as férias com a avó (Inácia), na fazenda do Logradouro, perto de Quixadá. Gostei muito da personagem, e creio que a autora tenha colocado muito de sua personalidade nela. Conceição é aquela moça irônica, bem decidida, fala muito bem que nasceu para ser solteirona, e tem um grande coração. Ela, desde o início (a história inicia-se no mês de março), sabe que a chuva não virá tão cedo, e convence a avó de se mudar com ela para a cidade.

O segundo ponto de vista é o de Vicente, sobrinho de Inácia. Ele nasceu em berço rico - pelo menos para os padrões da cidadela onde moram - e abnegou-se das regalias para ser vaqueiro, contra a vontade da família. Ele acompanha de perto o sofrimento do gado, a escassez das vazantes e, mesmo quando seus familiares se mudam para Quixadá, ele permanece na fazenda. Vicente gosta muito de Conceição, embora ele também não pense em casar. Ao longo da história você fica esperando que ele mude de ideia - afinal, em livros e filmes, esse pessoal que diz que não quer casar acaba casando no final. Deixarei que você descubra por si.

O terceiro ponto de vista é bastante familiar para quem já leu Vidas Secas, e é a parte de mais sofrimento, mais realismo, da história. Chico Bento, que trabalhava na fazenda da família de Vicente, percebe que não pode continuar ali, no sertão, senão sua família e ele morreriam de fome. Após conversar com a esposa, dona Cordulina, vende tudo o que tinha e parte com os quatro filhos e a cunhada (Mocinha). O objetivo dele era conseguir passagens para o Amazonas (lembrando que, naquela época, o Ciclo da Borracha ainda era muito atrativo), mas, ao chegar na estação de trem do Quixadá, não consegue as passagens - porque, como é o Brasil, havia uma espécie de lobby para se consegui-las. O jeito, então, é ir a pé até Fortaleza. Com isso, surgem as mazelas que tanto marcaram a vida dos retirantes.

Rachel de Queiroz também retrata um pouco da precariedade de um dos campos de concentração para os flagelados, a dor das mães naquela situação dramática e, inevitavelmente, regionalismos (como a palavra mode, que, aparentemente, tem múltiplos significados).

Com certeza vale a pena ler este livro, o qual inaugurou a Segunda Geração da literatura modernista brasileira. É uma história riquíssima e muito cativante, embora um pouco triste...

Desde já, agradeço a todos vocês que acompanharam o blog este ano, e desejo-lhes um feliz 2019! Até janeiro 😊




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