Sobre algo que não é inveja

Olá, pessoal. Sei que esse blog funciona majoritariamente para resenhas de livros, mas, como deixei claro qui, este espaço também é dedicado ao compartilhamento de alguns pensamentos e textos escritos por mim. 

Sem mais delongas, hoje vou falar sobre algo que não é inveja, mas que particularmente me afeta todo santo dia - especialmente durante as férias. Muita gente já escreveu e comentou sobre o chamado "fear of missing out" (medo de ficar de fora), ou FOMO, para os íntimos - é a sensação de que as pessoas estão se divertindo sem você, realizando objetivos que você queria alcançar; enfim, de que elas têm uma vida melhor que a sua. Esse sentimento, que obviamente já existia no passado (embora, até onde eu saiba, não era tão enfatizado quanto hoje), foi potencializado de maneira exponencial em advento das redes sociais. 

Acho que a designação do FOMO não é capaz de expressar exatamente o sentimento, e é mais ou menos sobre isso que pretendo articular.

Não me considero uma pessoa invejosa. Sei muito bem que não posso ter tudo o que as outras pessoas têm; a minha vida não é igual à de ninguém; relacionamentos e conquistas são construídos com o tempo. Nada nesse mundo acontece em um passe de mágica, a menos que você seja uma das Kardashians, que são ricas e famosas simplesmente por existir. Como cristã, reconheço a inveja como pecado, e a humildade como virtude, mas luto diariamente contra a raiz desse mal: a comparação (não que ela seja, por si, ruim) - o problema é que, se dermos muita trela, essa coisa que não é inveja pode vir a sê-la. 

Quantas vezes eu já tive vontade de dar um basta, deletar meu Instagram e ser feliz, de uma vez por todas, sem ter que saber o que fulaninho está fazendo e o que fulaninha comeu no café da manhã! Olhamos as nossas redes sociais e absorvemos as experiências de terceiros; estamos mais engajados na vida alheia do que na nossa. Para não parecer hipócrita, coloco aqui algo que passou pela minha cabeça nesta semana: é época de férias e quase todo mundo que eu conheço está viajando ou vai viajar. Enquanto isso, eu só fico em casa, assistindo vídeos aleatórios no youtube até não aguentar mais. Dá vontade de pegar o carro da minha mãe e dirigir sem rumo - e olha que ainda nem tirei minha CNH!

Às vezes não existe nem mais um medo de ficar de fora, mas uma ânsia por fazer algo digno de ser postado nas redes sociais, por estar com uma pessoa que reposte os meus stories nos stories dela. Queremos - involuntariamente ou não - que alguém comente, aplauda as nossas ações e sinta inveja das nossas experiências. 

De alguma maneira, sei que todos somos iguais no sentido de querermos compartilhar com o mundo o que estamos fazendo. Isso não é errado. Errado é pensar no post ou nos stories em detrimento do momento vivido, em si. 

Devemos (e me incluo totalmente nesse grupo) aceitar quem somos, onde estamos, e por qual momento da vida estamos passando. Devemos estar com pessoas que nos façam esquecer dos nossos celulares; com quem possamos passar horas a fio conversando e, no final das contas, nem mesmo ter foto para registrar o momento. Devemos verdadeiramente tentarmos ser felizes e agradecidos, por mais que os outros pareçam muito mais felizes do que nós.

Se continuarmos vivendo nesta mentalidade de Big Brother (tanto no sentido do Grande Irmão, de Orwell, monitorando a vida de terceiros, como de nos expormos continuamente), vamos acabar nos tornando pessoas vazias e acerbadamente deprimidas. 


Comentários

  1. Teu texto me fez lembrar de uma frase do Bansky sobre como as pessoas são tão interessadas em compartilhar detalhes da vida privada nas redes sociais, que esquecem que a invisibilidade é um superpoder. Acho que não há nada de errado em registrar momentos gostosos que merecem ser celebrados e lembrados, mas nada em excesso é bom. Tornar o ato de compartilhar cada hora e todo lugar se torna um vício que não apenas prejudica a si mesmo, como aos outros também. Como você disse, precisamos de mais lugares e pessoas que nos façam esquecer o celular, as redes sociais, e tenho certeza que mesmo sem registro fotográfico, esses momentos serão para sempre lembrados.
    Obrigada pelo texto e pela reflexão. Parabéns!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Concordo. O excesso é sempre prejudicial! Devemos nos atentar mais aos limites do que compartilhamos. Bacana o seu comentário!

      Excluir
  2. Excelente reflexão! Percebo que meus momentos mais agradáveis são aqueles que quando acabam eu já acumulei algumas centenas de mensagens em meu WhatsApp, chego então a conclusão que as últimas horas que não estava usando meu celular foram as horas mais valiosas do meu dia!!! Bjo do Tio Esdras!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Isso aí - um momento hoje vale mais do que mil mensagens. Obrigada pelo comentário, tio!

      Excluir
  3. Ótimo texto, hoje estamos sendo levados a vivermos uma vida superficial de exarcecrbada aparência. Por isso é necessário uma auto avaliação diaria para encontramos o equilíbrio!!!

    ResponderExcluir

Postar um comentário