Resenha #19: Razão e Sensibilidade

A todos vocês que pacientemente aguardaram a nova resenha (vocês sabem quem são 😏), bem-vindos de volta!

Hoje trago a resenha de um livro que me custou quase um mês todo, o que é muito raro quando estou de férias. É uma obra de aproximadamente 400 páginas e com um enredo simples, então já adianto: vale a pena tentar a lê-la. 

Porém a resenha não será tão curta assim, uma vez que a história, como toda trama da autora, envolve muitos personagens (tantos que eu fiz uma espécie de mapa mental para organizar quem é quem).

Razão e Sensibilidade é mais um clássico da literatura inglesa, e um dos livros mais famosos de Jane Austen, adaptado em não sei quantos filmes, séries, novelas, releituras, etc. Foi publicado em 1811 e nos traz muito do que era a sociedade burguesa daquele início de século XIX, na Inglaterra: o casamento como ascensão social e realizado como "contrato", por meio do dote; a falsidade, as fofocas, a superficialidade das pessoas. 

A história começa após a morte do Sr. Dashwood, um homem de negócios que herdou de um primo uma antiga propriedade da família e que, por conseguinte, deixou em seu testamento uma boa quantia de dinheiro. Seu herdeiro, filho de seu primeiro casamento, fica incumbido de tomar conta da distribuição de parte da quantia à segunda esposa e às três jovens filhas, Elinor, Marianne e Margaret (esta não tem grande importância na história, vocês logo perceberão). 

O jovem John Dashwood é até um rapaz bem-intencionado, porém a esposa dele... ela consegue convencê-lo de reduzir significantemente a "anualidade" às Dashwoods e tirá-las da casa onde elas moravam o mais rápido possível. As quatro vão para uma casinha de campo simples (as famosas cottages inglesas), na propriedade de um parente, o sir John Middleton. Lá elas se aproximam dos Middleton e da Sra. Jennings, uma velha senhora, mãe da sra. Middleton, a qual tem mania de casamenteira.

Como Elinor já estivesse prometida ao irmão de sua cunhada, todos parecem querer juntar Marianne a um amigo de sir John, o coronel Brandon. Só que o tal coronel é um homem vinte anos mais velho do que a jovem Marianne, de dezesseis anos, e não é nada como o jovem galanteador com quem a garota sonha casar-se. Ela, fazendo jus à sua "sensibilidade", que dá título à obra, obviamente se recusa a afiliar-se com o homem, e chega até mesmo a detestá-lo por gostar dela. Elinor, no entanto, mantém a amizade com o coronel, e espera que a irmã passe a retribuir as afeições a ele algum dia.

Um dia, enquanto corria com a irmãzinha Margaret no campo, Marianne cai e torce o tornozelo. Aparece para acudi-la um moço que passava por ali, e ele torna a visitá-la em casa durante a recuperação. Como em qualquer romance clássico, é claro que ela se apaixona por ele, o belo, forte e charmoso Willoughby. Fosse na vida real, ele não teria feito mais do que a obrigação em ter prestado assistência à mocinha. Mas continuando...

Marianne se recupera e tudo dá a entender que os dois firmam uma aliança de noivado e, quando chega a hora de o rapaz voltar à cidade para negócios, a garota se debulha em lágrimas e se isola no quarto. Elinor, a voz da razão, fica preocupada com o sentimentalismo da irmã, e algumas semanas depois aceita o convite da Sra. Jennings de irem as três (ela, Marianne e a senhora) a Londres. Iriam também uma das filhas da velha senhora, e o esposo; em seguida, ajuntariam-se a eles os Middleton e duas parentas distantes, as quais a Sra. Jennings havia conhecido há pouco tempo: as irmãs Anne e Lucy Steele.

Revigorada com a proximidade que estaria de seu amado, Marianne acaba indo, e lá na cidade elas passam uma longa temporada, na qual se desdobra a maior parte da trama. Confesso a vocês que a primeira metade do livro me fez cair no sono toda vez que eu tentava ler (e não importava a hora do dia). É tudo beeeeem paradinho, e só nessa brincadeira levei duas semanas para ler as primeiras cento e poucas páginas. Mas continuei e não me decepcionei.

Em Londres, Willoughby ignora todas as tentativas de Marianne em comunicar-se com ele. Ela fica magoada, e seus sentimentos ficam ainda mais machucados quando ela o vê em uma festa e ele a trata com indiferença - ou melhor, finge que ela nem existe! Ah, eu não deixava barato! No dia seguinte, Marianne lhe escreve uma carta, a qual ele finalmente retorna. Escreve uma tremenda declaração de que nunca pretendeu casar-se com ela e mais algumas coisas terríveis, as quais nenhuma moça deveria ler. 

A jovenzinha fica com o coração partido, pois ele também retorna todas as cartas que ela o havia mandado desde a chegada na cidade, assim como a mecha de cabelo que ela lhe dera. Ela cai numa depressão profunda e um ódio de Willoughby, arruinando o resto da estadia em Londres. 

Elinor, apesar de uma certa inimizade com as irmãs Steele, torna-se confidente de uma delas, Lucy, e certo dia a moça confessa e comprova que está compromissada com o mesmo homem que ela. Sim, é meio confuso, e o como e o porquê só são explicados posteriormente. Elinor, apesar de todo o seu ceticismo, fica abatida com a notícia, e não entende por que o seu querido Edward Ferrars não havia contado a respeito disso. 

Diferentemente da irmã, Elinor não perde a compostura. Ela não conta a ninguém, nem mesmo a mãe, a respeito do noivado entre seu quase-marido e a senhorita Steele. Em uma festa, a mais velha das irmãs Dashwood conhece a família de Edward, incluindo seu irmão, Robert Ferrars. 

Passado um tempo, Willoughby se casa com uma tal Miss Grey, uma moça rica e que lhe prometerá afluência na sociedade. Marianne ainda está melancólica e com raiva dele pelo que ele fez com ela, mas começa a se recuperar. Em seguida, a notícia do noivado de Edward chega aos ouvidos dela, e Marianne se compadece da irmã: "Eu estava aqui sofrendo, com a atenção toda em mim, e você, em uma situação igual, omitiu seu sentimentos de todo mundo!"

Enquanto Edward é deserdado por querer casar-se com uma mocinha sem classe alguma, e fica sem dinheiro, as irmãs voltam ao campo, para passar um tempo na casa de alguém (não me lembro quem!). Lá o coronel Brandon conta a Elinor que irá dar a Edward uma de suas propriedades, onde ele poderá morar e lucrar algum dinheiro. 

Marianne fica doente e quase morre; todos caem em desespero e até mesmo Elinor perde a cabeça por causa da querida irmã. Mas a mocinha volta a ficar bem após um tempo, e no mesmo dia em que a Sra. Dashwood havia de chegar de casa para ver a filha convalescida, Willoughby faz uma visita e explica a Elinor o que aconteceu com ele, e lhe dá motivos para não odiá-lo. O discurso foi comovente, mas a minha opinião não mudou, Willoughby foi um cretino.

Por fim, tudo volta ao normal, tudo fica bem, e já em casa as Dashwood recebem a notícia, direto de um de seus empregados, que o sr. Ferrars e Lucy se casaram. Só que não era Edward Ferrars, descobrimos posteriormente, e sim Robert Ferrars. Para dar aquela conclusão típica de final feliz, Edward chega e pede Elinor em casamento; desculpa-se pelo compromisso com Lucy (e explica o que e por que de suas ações) e consegue consertar a bagunça que havia causado, inclusive volta a ser filho legítimo de sua mãe. A "razão", por fim, deixa ser tomada pela emoção, pela alegria de poder casar-se com quem ela amava.

Marianne, tempos depois, acaba cedendo ao coronel, o qual, apesar de não ser lindo e jovem como Willoughby, é uma excelente pessoa, e a ama de verdade.  

Eu não diria que ocorre, no fim da trama, uma inversão de papéis entre Elinor e Marianne, como eu supunha que acontecesse. Mas cada uma incorpora um lado da outra, e elas naturalmente percebem que nenhum dos extremos - ser guiada somente pela razão ou somente pela emoção - é "saudável" nos relacionamentos, tanto os de amizade quanto os amorosos. 

E é com essa pequeníssima resenha que eu me despeço de vocês por enquanto. Até logo!

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