Brasília: 59 anos e uma resenha do que escreveram sobre ti

                                                  anunciaram a utopia
                                                  mas foi brasília que apareceu
                                                                        - Nicolas Behr

Hoje, 21 de abril, é o aniversário da minha querida cidade, minha amada Brasília. Eu não estava aqui no início, mas tenho a oportunidade de conviver com quem está desde antes de haver um aqui. Minha vó (materna) mudou-se para cá com a família, com 13 ou 14 anos de idade. Era a época em que só havia barro, poeira e cerrado, e para chegar no Plano, saindo de Taguatinga (onde ela mora desde que chegou) custava muito tempo. Trabalhou de empregada doméstica por um tempo, para as donas-de-casa da W3 Sul. Foi à inauguração da cidade, em 1960, com o pai e os irmãos - conta que foi lindo! Enquanto os homens erguiam a cidade, as mulheres cuidavam da vida - delas, dos outros; criavam seus filhos, primeira geração de brasilienses - meus pais. E aos poucos Brasília foi tomando forma: de concreto, de argamassa, de gente.

E chegou ao que é hoje: tão nova, mas tão cheia de antigos problemas (entre eles o trânsito e o transporte público)! Pudera eu poder consertá-los, mas quando nós amamos, amamos do jeitinho que ela é mesmo.

No início do ano li um livro publicado em comemoração aos 50 anos da cidade: "50 Anos Em Seis - Brasília, prosa e poesia). É um livro pequeno, escrito por seis autores: André Giusti, Fernanda Barreto, José Rezende Jr., Liziane Guazina (professora de Comunicação na UnB), o já consagrado Nicolas Behr e Pedro Biondi. A edição foi limitada, apenas 1000 exemplares. Embora lá na FAC os professores tenham disponibilizado um dos exemplares aos alunos (e eu ia pegá-lo assim que voltasse às aulas), acabei encontrando um em biblioteca que eu estava arrumando, perto de casa. O livro é pequeno, 186 páginas com fonte grande e espaçamentos largos; grande parte dos escritos é poema, e dá pra ler tranquilamente em duas horas.

Admito que não sou muito fã de literatura contemporânea, então passei batido em alguns contos meio pornográficos e/ou com palavrões demais. Mas dá para relevar. Tem umas coisas meio esquisitas, mas que a gente não duvida que aconteçam por aí. Há também uns escritos sem nexo, que pareceram para mim como que cuspidas teclado afora. Mas eu respeito a arte - há quem goste dessa vertente literária mais liberal, e eu sou uma mera intrusa nessa questão.

O livro é, acima de tudo, um tributo à cidade e um ode às suas paisagens e aos seus lugares. Entre suas críticas à burocracia e à gentrificação (segregação dos habitantes pela classe social), encontramos uma verdade que só nós, brasilienses, entendemos. Acabamos rindo de algumas "estórias" por nos identificarmos.

Entre os lirismos e os ultrarrealismos, só posso dizer uma coisa: o livro consegue sintetizar o que é viver nesta cidade. E espero que daqui a 41 anos não tenhamos esquecido dessa essência brasiliense, de geometria, linhas, curvas, cobogós, ipês, flamboyants, mangas, abacates, corujas, buracos-do-tatu, Eixão do Lazer, tesourinhas (alagadas), zebrinhas, pardais, parar na faixa de pedestre, do Conjunto, do Conic, da W3, do Beirute, das Viçosas, do CCBB, de pores-do-sol no Lago - pelo contrário: que tenhamos a decência de não tornar um lugar tão singular em mais uma grande cidade. E que venham mais 50, 59, 100 anos de Brasília.










"Pensando bem, saquei qual é a tua, Brasília. Descobri a razão de seres assim, distante, à primeira vista. É porque quanto mais íntimos nos tornamos de ti, mais percebemos que por trás do concreto, no arrabalde das tuas linhas retas, moram tuas contradições tupiniquins. São muitas Brasílias, Brasília, porque são muitos os Brasis. Tu és, para mim, a típica cidade brasileira." - Liziane Guazina

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