Resenha #22: Aos 7 e aos 40

Olha, não sou muito fã de literatura brasileira contemporânea. De Jorge Amado para cá, parece que quase tudo com o qual me deparei foi baixaria. Mas, felizmente, para tudo há exceções. O livro de hoje foi escolhido pelo clube do livro da BCE em algum momento do ano passado, mas, como não pretendia comparecer (de fato, não fui) ao encontro, não fiz questão de ir atrás da obra. Uns meses depois, ainda no ano passado, eu estava meio à toa na biblioteca e me deparei com o livrinho na seção de novas adquirições. Peguei o exemplar e comecei a ler. Acho que li umas 40 páginas de uma tacada só, mas não peguei emprestado no momento por causa das pilhas de textos do meu curso.

Foi só agora que tive a oportunidade de locar o livro, e a leitura foi super rápida. Com 160 páginas, o livro escrito em 2013 pelo paulistano João Anzanello Carrascoza encanta qualquer um simplesmente com a diagramação. Como se nos contasse duas histórias separadas, porém que se interseccionam, as páginas são organizadas em relatos dos sete anos (abaixo) e dos quarenta (acima). Assim:



“Aos 7 e aos 40” me cativou desde o início com sua prosa deliciosa e singela. Das descobertas da infância à saudade das alegrias passadas, Carrascoza soube equilibrar muito bem esses relatos. Nada enfadonho, sem nenhuma romantização da vida: ela é o que é. Aos 7, o menino vai aos poucos aprendendo a enfrentar as dificuldades, a lidar com as perdas, com as derrotas, sem deixar de lado a inocência e a alegria de ser criança. Aos 40, ele olha para trás e se relembra com carinho os momentos na cidadezinha do interior, onde cresceu. Como um Adulto, ele tem problemas mais complicados, mas ainda mantém (mesmo que nas entrelinhas) um olhar otimista do mundo. 

Notei que Carrascoza utiliza de duas pessoas da narração para reforçar o contraste: nos relatos da infância, tudo é em primeira pessoa (eu fiz isso, eu falei aquilo...), e enquanto adulto, é em terceira (o homem... ele foi à...). Não sou nenhuma crítica literária (quem sabe no futuro!), mas minha interpretação para o uso de dois narradores foi o distanciamento psicológico dele como menino e como homem. Talvez, no fundo, nunca aceitemos que crescemos e nos tornamos adultos - quem sabe não queremos nos ver como tais. Ao mesmo tempo, o autor busca reconciliar-se "consigo mesmo". 

As narrativas da infância me lembraram um pouco "O Menino do Espelho", do Fernando Sabino, só que menos fabulosas. Amo leituras com essa essência nostálgica (quem sabe é porque sou uma pessoa nostálgica), que remetem à infância com um olhar respeitoso, sutil e carinhoso. É muito bacana encontrar uma prosa dessas nesse mundo tão depravado, onde o autor acha que ficar metendo palavrão e baixaria para todo lado torna o livro mais "vendível". Bem-aventuradas são as exceções!

Acho que a leitura será muito proveitosa e rápida para qualquer um que por as mãos num exemplar. Dá para ler em um final de semana, em dois dias (como fiz) ou em uma noite (por que não?). Seja como for, espero que esse livro te traga um pouquinho de alegria, com toda a sua leveza e diagramação dinâmica.

"Mas como todo começo é grande, está numa altura acima de nós, e só se a gente continuar, se persistirmos no caminho, é que o superamos - e aí dá pra subir mais o sarrafo." 

Até a próxima!

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