Rel(ações) virtuais

Neste mês de maio eu venho tendo conversas inintencionais com várias pessoas a respeito do mundo virtual. É um assunto um pouco enfadado, principalmente para nós que nascemos depois de 1990, mas devemos constantemente nos indagar a respeito de o quanto tudo isso nos afeta. Pegamos o início da era das redes sociais e nos adaptamos rapidamente; eu mesma criei um Facebook com onze anos de idade (para jogar CityVille), então considero o mundo virtual tão "natural" quanto os ambientes e objetos ao meu redor. 

Há umas duas semanas tive um diálogo bem produtivo com um amigo sobre como nos apresentamos na internet, como isso afeta o modo em que vivemos e a nossa privacidade (contando com referências a episódios de Black Mirror e a Bauman). Contraditoriamente, naquela mesma semana eu passava por um momento de angústia por não conseguir chegar em alguém no Whatsapp, para puxar conversa. Cheguei a ficar decepcionada comigo mesma, uma vez que na "vida real" eu conversava tão tranquilamente com aquela mesma pessoa, mas pela internet eu mal mandava um "oi" e já sentia como se eu a estivesse importunando. Isso me levou à dúvida: existe uma hierarquia para os relacionamentos "modernos"? Será que uma amizade virtual é tão válida quanto uma amizade em que os indivíduos se contatam fisicamente?

Minha resposta: depende. Parei para perceber que grande parte das minhas melhores (e mais duradouras) amizades são aquelas nas quais eu não preciso bombardear as notificações da pessoa; são aquelas em que a gente mal se fala pela internet mas que, quando estamos juntos no mesmo lugar, podemos conversar por horas a fio sem que o assunto morra. São as amizades nas quais eu não preciso ficar postando todos os nossos momentos juntos nos stories do Instagram para atestar o quanto somos próximos. São pessoas cuja confiabilidade é maior no têtê-à-têtê.

Por outro lado, é inegável o privilégio de podermos usar os meios virtuais para alcançarmos as pessoas, principalmente quando elas se encontram geograficamente distantes: semana passada, por exemplo, passei duas horas em uma ligação com uma amiga que estava viajando, e isso só é possível graças à internet. Da mesma maneira, não podemos deixar de lado a revolução comunicativa que esses meios nos trouxeram: sinto às vezes que eu até me expresso melhor usando stickers, emojis e kkkkks. Desenvolvemos uma linguagem que, como todas as outras, só faz sentido dentro de seu contexto. Isso mostra o quão poderosas essas relações se tornaram. Certas coisas só podem ser contadas pela internet (especialmente brincadeiras sem graça), e isso ninguém pode negar. Nos sentimos mais à vontade para mandar piadas, memes, para desabafarmos, até.

Existem também amizades totalmente virtuais, nas quais é pouco provável que os interlocutores (se assim posso chamá-los) venham a se conhecer pessoalmente. Entre 2013-2016 eu mantive uma grande rede de amigas virtuais, tudo graças ao Tumblr e à minha devoção adolescente a séries que quase ninguém assistia. Eu conversava com meninas da minha idade, dos Estados Unidos, principalmente, sobre os episódios e os personagens; fazíamos previsões para os finais de temporada e surtávamos quando o nosso ship interagia por mais de dois segundos. Não tenho o menor interesse de conhecê-las pessoalmente, mas até hoje sigo algumas dessas amigas no Instagram e posso dizer que elas marcaram essa fase da minha vida positivamente - aliás, aprimorei muito o meu inglês naquela época!

Para concluir: as hierarquias das diferentes relações que mantemos dependem da nossa visão de mundo e de como as validamos no nosso cotidiano. Não sei se consegui explanar o que eu havia pensado inicialmente, mas quero dizer que devemos avaliar como nos comportamos e se (ou o quanto) estamos interferindo negativamente na nossa interação com o "mundo real". Não quero pagar uma de antiquada, mas eu ainda acredito que vale muito mais a pena nos atermos ao que é tangível e às pessoas que estão ao nosso lado. Melhor cochichar segredos no ouvido de alguém do que confiá-los aos binários das máquinas.



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