Resenha #23: Enclausurado

Vai chegando o meio do semestre e logo as minhas leituras literárias vão diminuindo... Em abril só consegui ler um romance, recomendado para o trabalho final da matéria que peguei de Introdução à Teoria da Literatura. Mas como foi uma leitura prazerosa (apesar de esquisita), decidi escrever uma resenha sobre a obra.
Trata-se do livro "Enclausurado", do escritor inglês Ian McEwan, publicado em 2016 com o título original "Nutshell" (A Casca de Noz). Talvez para não ser confundido com um dos livros de Stephen Hawking, decidiram traduzir o título da obra para Enclausurado.  Prefiro o original, mas fazer o quê, né? São 200 páginas, ou seja, é um livro relativamente pequeno. Se você não estiver empacado em trabalhos e leituras para a faculdade como eu, dá para ler tranquilamente ao longo de uma semana. O enredo não me prendeu como eu esperava, mas a narrativa flui bem. 
A história é uma releitura de Hamlet (uma das peças mais famosas de Shakespeare e que até hoje não consegui terminar) adaptada ao século XXI. Em vez de tratar de uma família de monarcas, McEwan decide tornar os personagens pessoas comuns. A grande surpresa é a proposta do narrador: nosso Hamlet não passa de um bebê ainda no útero da mãe, impotente e sem uma percepção nítida do que se passa do lado de fora das paredes uterinas. 

Meus olhos se fecham com nostalgia quando lembro como vaguei antes em meu diáfano invólucro corporal, como flutuei sonhadoramente na bolha de meus pensamentos num oceano particular, dando cambalhotas em câmera lenta…” É assim que começamos a leitura deste livrinho tão esquisito, mas contado de uma perspectiva inédita. Nosso narrador conta suas percepções a respeito de sua mãe, Trudy e de seu "amigo" Claude (que logo é revelado como sendo o amante dela). Vamos descobrindo tudo junto com o bebê, cujo tempo narrativo é no presente. Isso é, na minha opinião, o que dá suspense para a história. 

Trudy e Claude estão arquitetando um plano para matar John Cairncross, que é o marido de Trudy e o pai do bebê. Assim como em Hamlet, a rainha mantém como amante o irmão de seu esposo. O casal vive na casa de John, são folgados a ponto de dar raiva, deixam lixo e roupas no chão e basicamente só pensam em duas coisas: bebida e sexo. É enfuriante. 

O narrador-personagem-observador, apesar de não ter ainda nascido, é mais sábio e reflexivo do que todo mundo nessa história: ele tem um quê de existencialista, e vive se perguntando acerca do mundo, do presente, do futuro. "Sentirei, logo serei", eis a versão contemporânea de "ser ou não ser". Hoje não há mais espaço para as dúvidas, apenas para os sentimentos: dor, prazer, ódio, amor.

Não vou revelar a trama toda, nem ao menos se Trudy e Claude conseguem assassinar John; só digo que vale a pena ler este thriller por causa da proposta narrativa que ele traz. Tenho certeza que você irá repensar o papel de quem lhe conta a história.

Até a próxima!!

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