O que é o Amor? (Pseudo-ensaio)
Hoje é comemorado o Dia dos Namorados no Brasil, data a qual, para muitos, é apenas mais um dia de lamúrias por não "ter ninguém" (e eu compreendo isso, em parte). Entretanto, assim como algumas pessoas fazem em países onde se comemora o Valentine's Day, percebo que hoje há a tendência de amigos (solteiros, até onde eu saiba) celebrarem a data como prova de que não é preciso estar em um relacionamento romântico para se alegrar no "Dia do Amor". E acho essa ideia super válida - sabe por quê?
Porque muitas vezes nos esquecemos do que é o Amor.
Porque muitas vezes nos esquecemos do que é o Amor.
Na sociedade pós-moderna em que vivemos, desconstruímos a ideia do que é amar.
Para reforçar a minha linha de pensamento, começarei com a ideia defendida por Bauman em Amor Líquido de que o amor é tido hoje como "episódios intensos, curtos e impactantes" vividos com a consciência da sua própria fragilidade. Parece-nos muito simples identificar o amor em uma canção, ou simplesmente confundi-lo com paixões efêmeras. Temos em mente a ideia de que o amor deve sempre ser aquela coisa grandiosa, que arde e, eventualmente, se esvanece. Comercializamos a noção de amor de maneira tão banal a ponto de o desprezarmos em suas manifestações cotidianas. "A promessa de aprender a amar é a oferta de construir a 'experiência amorosa' à semelhança de outras mercadorias", escreve Bauman.
Concordo com a afirmação de que o amor é completo e é único. Embora ele se encontre na íntegra (retornarei a isso daqui a pouco), ele é manifestado em partes que, colocadas juntas, revelam a dimensão do todo. C.S. Lewis, em seu livro Os Quatro Amores, separa logo de início os nossos prazeres humanos em "prazeres-necessidade" (precedidos pelo desejo) e "prazeres em si" (prazeres de apreciação). Ele diferencia os dois em exemplos bem simples: o prazer-necessidade é como um gole de água: sem sede, ele não é prazeroso, mas com sede, é. O prazer de apreciação é como um campo florido ou uma boa música, com os quais nos aprazemos sem estar privados de algo para sentirmos satisfação.
Vivemos em uma era de prazeres-necessidade que são confundidos com amor. Somos atiçados a sentir sede por relacionamentos amorosos e procuramos, então, o sentimento de completude em outras pessoas. Queremos ser compreendidos por estranhos quando nem mesmo compreendemos a nós mesmos. Largamos a plenitude do Amor e delegamos seu papel aos prazeres-necessidade. Um erro crasso.
Dia após dia nos distanciamos do amor verdadeiro, e talvez seja por isso que o mundo é tão repulsivo quando lemos ou assistimos às notícias do dia. No início desta semana fiquei chocada com a morte do ator da novela Chiquititas e dos pais dele. Não vou entrar no assunto à fundo, uma vez que o fato já foi mais do que mastigado pela mídia, mas às vezes parece que o amor perde a luta contra o egoísmo. Só no Brasil foram registrados 65.500 homicídios em 2017. Só no Distrito Federal tivemos, em junho, uns casos grotescos de assassinato de crianças: uma mãe que esquartejou o próprio filho; tios que torturaram a sobrinha até a morte e espancaram os irmãos dela por terem pedido comida aos vizinhos. Isso me leva a pensar: para onde foi o amor? O que leva o ser humano a cometer tamanha brutalidade?
Pode parecer irônico celebrarmos o amor nos tempos em que vivemos.
Mas o amor, embora esfrie, prevalece.
Ele se expressa de tantas maneiras que basta olhar em volta para reconhecê-lo. E não é necessário estar namorando para comemorar sua persistência.
O maior amor, e este é o Amor em sua plenitude, é o que sinto em minha vida em todo momento: o amor de Deus. Ele, criador de tudo, olhou para mim, cheia de falhas, e escolheu me perdoar antes mesmo que eu reconhecesse o quanto o meu coração era ruim. Ele deu o seu próprio filho como sacrifício para que eu e todo o mundo pudéssemos ser salvos dos nossos pecados.
O amor é acordar todos os dias com minha mãe chamando para tomar o café da manhã, e depois beber o delicioso e quentinho café que ela prepara. É esperar na janela para acenar para o meu pai quando ele sai para o trabalho.
O amor é ver a moça do ônibus que cede o lugar dela para que o filhinho possa ir sentado.
O amor é poder olhar para o céu, ouvir o canto das aves e sentir o vento que acalenta minhas manhãs... (o amor contemplativo de Lewis).
O amor é receber uma mensagem de uma amiga querida em um dia ruim: "Amiga, tô com saudade de você! Vamos marcar de sair qualquer dia!" ou uma foto seguida por "Lembrei de você".
O amor é me olhar no espelho e sentir-me contente com o meu reflexo.
O amor é agradecer por cada nova chance de levantar da cama e viver um dia singular e que jamais voltará.
O amor é fazer o bem ao próximo, ordenança divina, com o simples intuito de dedicar-me aos outros e desejar-lhes o bem.
O amor é corriqueiro e não se desgasta.
O amor é estar em paz com o mundo e saber que, apesar das decepções, o mal nunca prevalecerá.
Vale a pena lutar pelo amor e ter esperança nele.
Não há buquê de rosas ou caixas de chocolate que possam pagar o Amor Verdadeiro.
Neste dia, espero que todos possam fazer essa reflexão acerca do que é o amor. Para quem se sentir à vontade, sugiro a leitura de 1 Coríntios 13 (uma das minhas passagens preferidas da Bíblia). Sabe aquela frase do início da famosa música Monte Castelo, do Renato Russo ("Ainda que eu falasse a língua dos homens/ E falasse a língua dos anjos/ Sem amor eu nada seria")? Pois é. Ela é extraída dessa passagem bíblica, e não é nem metade do que Paulo (autor do livro de Coríntios) escreve a respeito do amor. Não é de qualquer amor que ele fala: é o amor divino, o único que prevalece, o único que não se esfria, o único que nos sacia. Basta o reconhecermos.
Bom refletir sobre o amor verdadeiro em tempos de sentimentos tão superficiais!!
ResponderExcluir