Brasil adentro

Mês passado fiz uma viagem que pode ser considerada fora do roteiro de muitos brasileiros, mas que foi, na minha opinião, o passeio mais estonteante de todos dentre os que havia eu feito até então. Embarquei com meus pais ao Amazonas, e lá fomos surpreendidos positivamente, tanto com a capital, Manaus, bem-organizada, quanto à estadia deslumbrante na mata amazônica.

Minhas primeiras impressões de Manaus, de onde partiu a aventura, me fizeram quebrar alguns pré-conceitos que eu tinha em relação à região Norte. Eu imaginava que a cidade não seria tão grande (embora seja referência entre todas as capitais na região), que estaria bastante descuidada pelo governo e que o calor de lá seria infernal, misturado com um bafo da umidade oriunda dos rios. Cheguei sem expectativa nenhuma e logo na saída do aeroporto me deparei com um engarrafamento ao longo de uma avenida. Bom, fosse em um dia de semana minha surpresa não seria tão grande, mas era pleno domingo. Quem é de Brasília sabe que, por mais que o trânsito seja péssimo durante a semana, aos domingos quase não há carros circulando pela cidade; por isso fiquei pasma ao ver tanto carro em Manaus em pleno domingo. 

Ficamos no centro histórico da cidade, bem pertinho do Teatro Amazonas, e me impressionei com o cuidado com a preservação dos edifícios antigos. Aquela parte da cidade é limpa; as fachadas das velhas edificações encontram-se revitalizadas, ou em processo de revitalização; as praças são limpas, arborizadas, e não têm moradores de rua dormindo nos bancos. Aparentemente há bastante policiamento na região durante o fim de semana, em vista dos turistas que passam por lá. O tempo estava bem agradável: céu límpido e calor bastante tolerável - lá venta muito também, o que ajuda bastante a reduzir a sensação da temperatura elevada. Não sei se em Manaus o ar fica mesmo com a sensação de abafado, mas pelo menos nesta época do ano (é verão por lá, acreditem) o tempo ficou estável e minha respiração foi abençoada com a umidade.

No dia seguinte começamos a aventura à "selva". Pegamos um carro até um porto, o que deu mais ou menos vinte minutos, depois pegamos uma lancha até um município a 30km de Manaus. De lá entramos em uma kombi (o principal meio de transporte na região), percorremos cerca de uma hora na rodovia, seguido por mais cinquenta minutos em uma estrada de terra (as kombis realmente são maravilhosas para desviar de atoleiros). Por fim, chegamos a um porto de pequenas embarcações, e de lá pegamos outra lancha até a pousada - "hotel selva", como minha mãe chama. Foram uns vinte minutos rio adentro, mas senti como se tivessem sido cinco. É indescritível a sensação de ter a floresta amazônica ao seu redor, de sentir a água morna respingando na cara; ver árvores enormes com pelo menos três metros de caule debaixo da água, por causa da cheia; observar as garças revoando e outras aves planando sobre a correnteza para pescar.

Nos dias em que passamos "no meio do mato", desconectei-me do meu celular e me reconectei com o esplendor da criação divina. Eu, que antes estava preocupada com as picadas de mosquito que levaria no passeio, acabei esquecendo-os em meio ao vislumbre de folhagens verdes, frutos desconhecidos, bichos-preguiça, pica-paus, bugios (macacos), iguanas e um tantão de outras coisas. Tive a oportunidade de fazer uma caminhada mata adentro em uma manhã (nem chamo de trilha porque ali o caminho era aberto na hora), de andar quase o tempo todo de barco ou de canoa e navegar na infinitude de água; de comer bastante peixe, farinha e açaí; de experimentar café, babaçu, ingá, de ver águas que formavam espelhos perfeitos; deslumbrar um pôr-do-sol e um nascer-do-sol de tirarem o fôlego; ver vitórias-régias ao vivo e em cores (sonho de infância realizado), de ver jacaré, boto, de pescar piranha e até mesmo presenciar um eclipse lunar no meio do rio! Ufa! 

Durante a viagem também conheci uma pequena comunidade indígena. Claro, a "tribo" já é ponto de parada nos passeios turísticos, mas gostei de ter conhecido de perto um pouco da tradição deles. É muito bonito ver as danças, instrumentos musicais, as pinturas deles, ouvir acerca de sua história. Experimentei tanajura assada também, e devo admitir que o gosto não é tão ruim assim (não achei bom, no entanto).

Ao mesmo tempo que pude conhecer as famosas casas ribeirinhas, de palafita, e conversar com gente da região (inclusive notei que é raríssimo encontrar alguém de lá com problema de vista: todos eles conseguem avistar bichos camuflados no mato a uma distância de vários metros), fiquei triste com o tanto de área desmatada no caminho da pousada. Há muitas fazendas grandes que tiram a vegetação amazônica para fazer plantações. É triste; houve momentos em que eu olhava pela janela da combi e pensava: "Eu estou no Amazonas ou no Goiás?". Notei também que as tradições estão se perdendo aos poucos: os jovens das comunidades ribeirinhas e das indígenas vão estudar na cidade e deixam de aprender a cultura e os costumes dos pais (como moer farinha, pescar para o almoço, identificar bichos e plantas, etc). Chegando em Manaus, mais precisamente ali pelo Rio Negro, observei muito lixo boiando na água e adentrando na mata alagada: garrafas de plástico e de metal, sacolinhas plásticas... chega deu dó!

Foi incrível vivenciar um Brasil tão distante e tão diferente do qual eu conhecia. De fato, nosso país é riquíssimo, tanto em biodiversidade quanto em cultura e atividades econômicas. Da simplicidade do ribeirinho, que subsiste da pesca e da troca de mercadoria com os vizinhos, à vida agitada na metrópole industrializada que é Manaus, com seus executivos vindos do Brasil e do exterior, voltei com uma sensação de felicidade que jamais senti ao retornar de uma viagem. Creio que todo brasileiro deveria fazer uma viagem como essa, de modo que possa aprender mais sobre o enorme país onde vivemos e, quem sabe, valorizá-lo da maneira que deveríamos. 

Para quem quiser ver algumas fotos dessa estadia incrível, deixo aqui o link para a galeria de fotos do meu Wix: https://elinesbemol.wixsite.com/elinefotografias/viagens

PS: Demorei muito para fazer essa postagem, e devo admitir que ela quase não saiu. Tinha muita foto e, mesmo com a pré-seleção, demorou muito para fazer os uploads e acabou que não deixei a galeria tão bonita quanto eu queria. As fotos ficaram pequenas na visualização, os títulos e legendas ficaram super corridos (fiz tudo de madrugada, opa), mas o que importa é a intenção, não é mesmo?! E é isso por ora!

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