Amarelo.

Hoje, 10 de setembro, é o dia mundial da prevenção do suicídio. No Brasil, é o "ápice", se assim posso dizer, do Setembro Amarelo - a campanha nacional de conscientização a respeito desse mal. Todos nós podemos pesquisar dados a respeito de quantas pessoas dão fim à própria vida a cada ano no mundo. Não quero entrar a fundo nas estatísticas. Este texto será apenas um breve ensaio acerca do tema: sem números com os quais me embasar; sem citações de psicólogos e pensadores famosos para encher linguiça. Serei apenas eu e minhas palavras. Peço desculpas se não for o suficiente. 

Resultado de imagem para amarelo van goghHá toda uma história a respeito do porquê do amarelo para representar este mês. Penso que o amarelo é uma cor bastante simbólica, pois em seu estado comum ela remete a um sentimento de felicidade e de completude. Lembro até de que teve uma época (saudosa era do Tumblr) em que circulava a história de que Van Gogh comia tinta amarela "na esperança de que ele ficasse feliz". Se isso é ou não verdade (provavelmente não é), não cabe a mim dizer. Na arte, o amarelo - vibrante, caloroso, alegre, libertador, contrasta com o melancólico azul: frio, aprisionador. 

Em uma simples reflexão, concluí que a simbologia do amarelo é bem impactante ao tratar da depressão, doença a qual pode culminar no ato suicida. Muitas vezes quem está ao redor de alguém com depressão nem nota. Muitas vezes o próprio doente nega a doença. Acha que é passageiro, afinal, há dias bons e ruins. A angústia fica ali, disfarçada entre sorrisos e gargalhadas. A constante solidão no meio de amigos, mas que insiste em mentir que está tudo bem. E assim a doença vai se alastrando, silenciosamente. 

Como estudante de Jornalismo, já presenciei discussões em sala a respeito do porquê das mortes por suicídio não serem divulgadas na mídia. A própria polícia tenta abafar ao máximo os casos. Teme-se uma verdadeira pandemia, a qual não é disseminada por um agente etiológico, e sim, pela própria sociedade em que vivemos. A verdade é que ainda permeia um tabu estarrecedor ao tratar deste assunto. Lembro que ano passado, na UnB, uma jovem se matou em um dos blocos de sala de aula, não muito longe de onde eu estava tendo aula naquele momento. Lembro que passaram a informação somente nos grupos de alunos e, mesmo assim, alertavam para não compartilharmos o ocorrido, nem o rosto da garota. Aquela não foi a primeira, e provavelmente não será a última vez em que irei me deparar com o suicídio de alguém geograficamente próximo a mim. O que devo fazer a respeito disso?, eu me pergunto.

Resultado de imagem para setembro amareloDomingo passado, na igreja em que estou frequentando, o pastor falou sobre como o papel da Igreja (tanto como instituição quanto pessoas que fazem parte do corpo de Cristo) deve ser de ouvir e auxiliar quem está em estado de depressão. Infelizmente ainda há a concepção de que transtornos e doenças mentais são resultado da vida pecaminosa do indivíduo, ou de que a solução lógica e imediata para o problema é "se acertar com Deus". Peço desculpas por quem pensa assim, especialmente porque 1) Todos nós somos pecadores e, fosse assim, todos os nossos problemas em vida seriam punição divina; 2) Sim, Deus nos ajuda e pode curar toda e qualquer doença. Mas Ele também deu ao ser humano a Medicina, e usa homens e mulheres diariamente para tratar de enfermos. A depressão, a "doença do século", como todos os outros males, deve ser tratada antes de chegar à fatalidade. 

Repito a pergunta: O que devo fazer a respeito disso?

Como cristã, devo reconhecer que infelizmente não posso ajudar todo mundo, mas posso orar para que Deus cuide de quem sofre de depressão e coloque pessoas certas na vida de cada um, dispostas a ajudá-las. Devo pedir por amor e empatia. Como membro desta sociedade, devo estar atenta a quem está ao meu redor e valorizar a trajetória de cada um, nem que seja fazê-los serem notados (afinal, um simples e intencionado "bom-dia" pode melhorar bastante o humor de alguém!). Como colega e amiga, devo conversar e escutar com atenção o que meus colegas e amigos dizem. Devo prestar auxílio, caso eu note sinais depressivos neles, e não virar às costas, caso peçam minha ajuda. Como Eline, senti que deveria escrever sobre isso. Quem sabe isso não dê um estalo na mente de quem lê este texto, de modo que ele ou ela passe a se importar com a saúde mental do próximo.

A pessoa que tenta contra a própria vida já cansou de procurar motivos para viver. Talvez ela já se sentisse morta por dentro há muito tempo, e não houve ninguém que lhe desse a atenção devida - a ajuda necessária. Espero que não só hoje, 10 de setembro, como em todos os outros 364 dias do ano, possamos nos importar com a depressão e, consequentemente, o suicídio. 


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